Indicado ao Oscar, Conclave é uma intriga palaciana clássica, mas convencional

NOTA: 4/5

O novo filme de Edward Berger, diretor do premiado Nada de Novo no Front, nos leva aos bastidores da eleição de um novo Papa após a morte do pontífice. Baseado no romance homônimo de Robert Harris, Conclave traz Ralph Fiennes em uma atuação memorável como o Cardeal Thomas Lawrence, o decano do Colégio dos Cardeais, responsável por conduzir o delicado e disputado processo de escolha do próximo líder da Igreja Católica. Fiennes, sempre excelente, entrega uma performance carregada de nuances, explorando a ética inabalável e as dúvidas pessoais de Lawrence em meio a uma tempestade de intrigas políticas.

Ao lado dele, temos Stanley Tucci como o Cardeal Aldo Bellini, um liberal americano que representa a ala progressista da Igreja, e John Lithgow como o moderado Cardeal Joseph Tremblay, que navega as águas turvas entre tradição e modernidade. Adicione a isso uma dose de conservadores e tradicionalistas e que temos aqui é uma espécie de Succession papal, com cardeais de diferentes posições políticas disputando discretamente – ou nem tanto – o poder. Cada diálogo em um corredor sombrio ou em uma sala reservada é carregado de segundas intenções, mostrando que, no Vaticano ou em Wall Street, as lutas pelo poder seguem as mesmas regras universais.

Berger conduz a trama com inteligência, aproveitando ao máximo a competente direção de arte. Os salões luxuosos e as capelas imponentes recriados para o filme são de tirar o fôlego, enquanto a paleta de cores destaca o vermelho vibrante das vestes dos cardeais, que contrastam dramaticamente com os tons neutros e austeros do Vaticano. Esse jogo de cores não é apenas visualmente adequado, mas também simboliza as tensões entre tradição e mudança, espiritualidade e ambição. Os efeitos visuais são sutis, mas eficazes, reforçando a grandiosidade do ambiente sem roubar a cena.

Apesar do tom solene, Conclave não se priva de reviravoltas instigantes. A obra mantém o espectador intrigado enquanto os segredos dos personagens são revelados aos poucos. E, mesmo que a escolha final do Papa seja bem previsível – algo que na prática, o espectador mais atento possa perceber com menos de 15 minutos de filme -, o roteiro guarda uma reviravolta final polêmica, que acrescenta uma camada bem provocativa à trama. É uma reflexão irônica e crítica sobre a humanidade também falha por trás das estruturas milenares da Igreja Católica.

No fim, Conclave é um suspense elegante, fascinante e, sim, bastante convencional, que talvez não mereça o patamar – já estabelecido – de ser um dos grandes concorrentes ao Oscar deste ano – com exceção da atuação magistral de Fiennes e outros aspectos técnicos como fotografia, direção de arte e figurinos. Ainda assim, o filme se destaca como uma experiência que combina entretenimento de alta qualidade com uma boa dose de reflexão sobre fé, política e poder. Para os fãs de intrigas palacianas, é uma obra que merece ser vista, seja pela sua trama envolvente ou pela beleza visual que emana de cada cena.


🎬 Conclave
📆 Lançamento: 2024
Duração: 120 minutos
🎥 Direção: Edward Berger (Nada de Novo no Front)
👥 Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Isabela Rossellini

Resumo: Após a morte do Papa, cardeais se reúnem no Vaticano para eleger o novo pontífice, em meio a intrigas políticas e revelações inesperadas que desafiam fé e poder.

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