Missão: Impossível 8 – O Acerto Final. A irresistível, ainda que irregular, conclusão de uma das maiores franquias do cinema

Tom Cruise plays Ethan Hunt in Mission: Impossible - The Final Reckoning from Paramount Pictures and Skydance.

Nota: ★★★★

A franquia Missão: Impossível, liderada por Tom Cruise, é um marco no cinema de ação, e é notoriamente conhecida por suas sequências de tirar o fôlego. Missão: Impossível – O Acerto Final, dirigido por Christopher McQuarrie, eleva a franquia a novos patamares de complexidade técnica, mas também revela algumas fragilidades em sua construção narrativa.

McQuarrie, que já havia dirigido Acerto de Contas, Nação Secreta e o espetacular Fallout, demonstra profundo conhecimento da fórmula da franquia, combinando ação, suspense e humor com maestria. A influência de diretores anteriores, como Brian De Palma, John Woo, J.J. Abrams e Brad Bird, é inegável. McQuarrie, porém, imprime sua pessoal, elevando a sofisticação técnica da série.

É fato, entretanto, que os filmes recentes parecem obcecados em sempre superar as sequências de ação dos antecessores. A busca pela cena mais impactante se sobrepõe, em muitos momentos, ao desenvolvimento orgânico da trama. A narrativa acaba se estruturando em torno da próxima proeza de Tom Cruise, subordinando o roteiro às necessidades deste malabarismo. Embora resulte em momentos de puro entretenimento, essa estrutura compromete a coesão e a profundidade da narrativa, e aqui o caso é mais grave.

O filme retoma a trama da obra anterior. Agora, alguns meses depois, a inteligência artificial conhecida como Entidade está pronta para dominar todo o arsenal nuclear do planeta, prometendo levar a humanidade a sua extinção, o puro apocalipse. Para resolver este problema, só há um homem para esta missão.

A tentativa de transformar Ethan Hunt em uma figura quase mítica, um salvador predestinado, é intrigante, mas problemática. A idealização do personagem, especialmente considerando que Cruise é também o produtor, protagonista e chamariz de bilheteria soa como uma clara autocelebração, impondo a imagem do próprio ator ao espectador. Essa construção dramática, muitas vezes, carece de organicidade e verossimilhança.

O roteiro de O Acerto Final, apesar de ambicioso, recorre a diversas conveniências narrativas que comprometem a lógica interna da história. A tentativa de interligar todos os filmes anteriores, embora crie uma sensação de continuidade, gera desvios e situações inverossímeis. Mudanças repentinas no comportamento dos personagens, como a inversão de lealdade de alguns aliados, parecem mais frutos de conveniência do que de um desenvolvimento orgânico.

Como já havia acontecido no filme anterior, o roteiro volta a apelar excessivamente para reuniões intermináveis entre os personagens, nas quais a trama é resumida e explicada repetidamente para o espectador, prejudicando o ritmo e a imersão na narrativa.

O antagonista humano, Gabriel, interpretado por Esai Morales, acaba relegado a um segundo plano, ofuscado pela ameaça da Entidade, a inteligência artificial. Embora Morales entregue uma atuação competente, seu personagem carece de desenvolvimento e peso narrativo, servindo mais como um obstáculo conveniente do que como um antagonista verdadeiramente ameaçador.

Essa escolha narrativa, embora justificada pela centralidade da IA, gera um certo desconforto, pois o público espera um conflito mais equilibrado entre o herói e o vilão principal, o que não acontece aqui. O foco deslocado para a Entidade, portanto, deixa o antagonista humano subdesenvolvido e pouco impactante, prejudicando, em parte, o desenvolvimento dramático da trama.

A escolha de uma IA como antagonista, no entanto, permite uma leitura interessante sobre a atualidade. Em um momento em que imagens e vídeos gerados por inteligência artificial se tornam cada vez mais comuns, O Acerto Final pode ser interpretado como uma crítica pouco sutil à priorização da criação de imagens artificiais, em detrimento da ação verdadeira que Cruise e McQuarrie buscam apresentar em seus filmes, com as cenas de ação sendo realizadas, em sua grande maioria, sem o uso de dublês.

Com essas questões, a complexidade crescente do roteiro prejudica a clareza da narrativa. Em vários momentos, o espectador acompanha as sequências de ação sem compreender totalmente seu significado dentro da trama. A priorização do espetáculo visual, portanto, resulta numa experiência visualmente deslumbrante, porém narrativamente insatisfatória.

A película faz diversas referências aos filmes anteriores, trazendo de volta personagens do primeiro filme e explorando as habilidades específicas de cada membro da equipe de Ethan Hunt: a inteligência e agilidade de Grace (Hayley Atwell), a calma e resiliência de Benji (Simon Pegg), e a dedicação incansável de Luther (Ving Rhames). A Paris de Pom Klementieff é uma efetiva máquina de luta, mas está aqui basicamente para fechar as conversas com uma frase de impacto – em francês.

Mas, vamos ser sinceros: apesar dessas questões, Missão: Impossível – O Acerto Final proporciona momentos de puro entretenimento, com sequências de ação brilhantemente coreografadas. A montagem paralela, que acompanha várias ações simultaneamente, é utilizada com maestria. A sequência do submarino e a cena final são exemplos de cinema de ação impecável, demonstrando a capacidade de McQuarrie de criar momentos cinematográficos memoráveis – só ele mesmo para transformar uma perseguição aérea entre dois teco-tecos uma das melhores sequências do ano.

Anunciado como o possível capítulo final da saga, Missão: Impossível – O Acerto Final conclui sua narrativa principal, contudo, deixa pontas soltas que sugerem a possibilidade de continuações. Apesar das fragilidades narrativas, o filme entrega momentos memoráveis de ação, suspense e adrenalina. A franquia Missão: Impossível demonstra uma capacidade extraordinária de criar espetáculos visuais. Contudo, O Acerto Final ressalta a necessidade de equilibrar a grandiosidade da ação com uma construção narrativa mais consistente e menos dependente de conveniências.

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Missão: Impossível – O Acerto Final

  • Título original: Mission: Impossible – The Final Reckoning
  • Duração: 2 horas e 49 minutos
  • Diretor: Christopher McQuarrie
  • Ano de produção: 2025
  • Elenco principal: Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Esai Morales, Pom Klementieff, Henry Czerny

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