“Homens! Perdoai-o! Ele não sabe o que fez!” A frase, proferida por Jesus Cristo na cruz, ilustra bem a pulga que José Saramago põe atrás da orelha do público em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, cuja adaptação para o teatro, assinada por Maria Adelaide Amaral e dirigida por José Possi Neto, a novamente pelo Teatro Guaíra este final de semana.
É a segunda temporada. A primeira esteve na mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba do ano ado, e era estrelada por Paulo Goulart, como Deus, Eriberto Leão (Jesus Cristo), Celso Frateschi (Diabo) e Maria Fernanda Cândido (Maria Magdalena), entre outros. Depois, foi visto por mais de 70 mil pessoas em São Paulo e no Rio. Do quarteto de protagonistas, apenas os dois últimos permanecem na montagem atual. Paulo Goulart cedeu o lugar para José Rubens Chachá, revelado pelo grupo Ornitorrinco, e Thiago Lacerda entrou no lugar de Eriberto Leão.
“Eu tinha visto a peça no Rio, ela me marcou muito. Logo depois eu li o livro, e encontrei o Possi, que me falou que o Eriberto não poderia mais fazer, e me convidou para fazer o Jesus”, contou Thiago ontem em entrevista coletiva. “Eu já achava a história o máximo, ia trabalhar com colegas que eu adoro, e ainda tinha a polêmica. Topei na hora, e fui ler o livro de novo.”
A base da montagem é o capítulo Manhã de Nevoeiro, que narra o encontro entre Jesus, Deus e o Diabo, e onde estão centrados os diálogos que revelam o cerne das idéias de Saramago. Para ele, esses três personagens, embora dotados de poderes sobrenaturais, possuem uma personalidade essencialmente humana: Deus é arrogante e orgulhoso, o Diabo é simpático e intrigante, e Jesus rebela-se, questiona e ama. Desse ângulo, o limite entre o bem e o mal fica desfocado.
Thiago Lacerda, que teve apenas 45 dias para ensaiar, assinalou diversas diferenças entre o seu Jesus e o de Eriberto Leão: “O dele era mais próximo do referencial católico, mais ivo, e eu preferi deixá-lo com a cara do Saramago – um Jesus com mais personalidade, menos conformado, que se rebela e vai atrás das respostas”. Para ele, que se diz católico não praticante, a maior dificuldade foi ir contra a imagem católica ocidental, compor um Jesus Cristo com livre arbítrio. “Essa é a linha trágica grega que Saramago propôs”, ressalta. Outro problema foi a opção por manter o texto próximo ao português lusitano: “A gente assassinou a língua, é muito difícil falar daquele jeito”.
Maria Magdalena
Uma crítica recorrente ouvida quando a peça ou por aqui no ano ado, dizia respeito à atuação de Maria Fernanda Cândido. A Maria Magdalena dela seria “pura” demais, não convencendo como ex-prostituta. Thiago defendeu a colega: “A Maria de Magdala no livro é ainda mais glamourosa que na peça. A função dela é conduzir Jesus na trajetória dele, e eu acho que a Maria Fernanda faz muito bem”.
O ator também comentou a pedreira que José Rubens Chachá teve que encarar, ao substituir Paulo Goulart no papel de Deus: “O Paulão é Deus. Mas o Chachá tem muita experiência e é extremamente talentoso. Não se intimidou e conseguiu fazer um Deus diferente, mas tão bom quanto o do Paulo”.
Um incidente ocorrido na semana ada, durante as apresentações em Florianópolis, ajuda a ilustrar o grau de envolvimento de Thiago e do elenco em geral com a montagem: “Naquele dia eu senti que tinha alguma coisa estranha no palco, e acabei cortando o dedo num prego do cenário. Foi um corte à toa, mas sangrou bastante, e eu fui em frente. Depois eu comentei com uma senhora, que é médium, e ela mandou: “Você tem que tomar cuidado, que com essa história a tendência é cada dia você deixar uma gota de sangue no palco"M627.409,331.563L512.604,306.07c-44.69-9.925-79.6-46.024-89.196-92.239L398.754,95.11l-24.652,118.721
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