Ousadia de outrora

Em 1976, Lauro César Muniz apresentou uma proposta no mínimo ousada a Daniel Filho. O autor pretendia contar a história de cinco gerações de uma mesma família. Tudo em um mesmo espaço. Tudo ao mesmo tempo. ?Contrapus três épocas diferentes em um mesmo lugar. A história pulava de uma fase para a outra, sem aviso prévio?, detalha Lauro. Daniel Filho ficou maravilhado com a idéia e resolveu convencer a Globo a entrar na empreitada de O casarão, novela que, há trinta anos chegava ao fim. ?O Daniel chegou para o Boni, amaciou as coisas e disse que eu tinha um projeto subversivo. O Boni topou e conseguimos implementar a idéia?, completa o autor.

Tudo começa em 1900, com os planos do poderoso fazendeiro Deodato Leme, interpretado por Oswaldo Loureiro, de fazer com que uma linha férrea e ao lado de sua propriedade Água Santa, para facilitar o escoamento da produção de café. É nesse local que ele constrói um magnífico casarão e que toda a trama se desenrola. O núcleo principal da trama integra a segunda fase da novela, que vai de 1926 a 1936. Carolina, personagem de Sandra Barsotti, João Maciel, vivido por Gracindo Júnior, e Atílio, de Dennis Carvalho, compõem um triângulo amoroso.

A moça sucumbe à pressão da família e se casa com Atílio, mesmo sendo apaixonada por João Maciel. ?A Carolina explorou em mim a maneira como hoje eu vejo o amor. Era um lado que eu não conhecia de minha personalidade?, revela Sandra. A atriz conta que era muito apegada a Gigi, personagem que interpretou em Pecado Capital, de 1975, e que demorou para ver a riqueza de Carolina. A história de amor que protagonizou no folhetim foi, na opinião dela, maior do que qualquer dificuldade que a trama enfrentou. ?Se em alguns momentos a narrativa do Lauro pareceu confusa para o público, essa história de amor conseguiu fazer com que a novela cativasse a todos?, argumenta.

O par romântico de Sandra no folhetim foi Gracindo Júnior. Para o ator, a melhor lembrança de O casarão é o envolvimento com a imagem de seu pai, Paulo Gracindo.

O saudoso ator representava o mesmo personagem do filho na terceira fase da novela, ambientada em 1976, e compunha o triângulo amoroso com Yara Cortes e Mário Lago. ?Foi uma honra fazer parte desse projeto ao lado de meu pai. O casarão é, sem dúvida, uma das coisas mais importantes que já foram feitas na tevê?, afirma.

Uma outra marca da novela foram os cortes que ela recebeu devido à censura. Um dos conflitos paralelos que também teve considerável repercussão na história foi o triângulo amoroso formado por Lina, de Renata Sorrah, Jarbas, interpretado por Paulo José, e Estêvão, personagem de Armando Bogus. ?O Estevão era violento e bateu em Lina. Mas a cena que mostrava isso foi cortada?, lembra Lauro César Muniz. Bete Mendes, que interpretava a jornalista Vânia, também se recorda da ?mutilação? que a novela sofreu. ?Eu não podia falar muita coisa que o autor colocava na minha boca. Apesar disso, o Lauro conseguiu contar a história muito bem?, elogia.

Mesmo com os percalços, a novela seguiu até o fim, mostrando uma fazenda vítima do progresso que ela ajudou a criar. Tudo porque uma nova linha férrea que chegava à região precisava ar exatamente no local onde a casa foi construída. ?O Daniel diz que foi uma novela complicada. Mas não foi. Não batemos a Janete Clair, mas rendemos bons números?, defende o autor.

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