O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara rejeitou hoje o parecer que recomendava o arquivamento do processo contra o deputado José Mentor (PT-SP), com a maioria do colegiado, 8 contra 6, opinando pela cassação dele. Um novo parecer recomendando a perda de mandato será elaborado até a próxima semana pelo deputado Nelson Trad (PMDB-MS). Mentor, visivelmente surpreso com a derrota, afirmou que tem esperança em vencer no plenário da Casa, etapa final do julgamento.
Os deputados Júlio Delgado (PSB-MG) e Carlos Sampaio (PSDB-SP) usaram o depoimento do sócio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, Rogério Tolentino, prestado à Comissão Parlamentar de Inquérito (I) dos Correios, e relacionaram datas de encontros de Mentor com Valério para argumentar contra o parecer do relator, Edmar Moreira (PFL-MG), que pediu a absolvição do petista.
Delgado sustentou que Mentor protegeu o Banco Rural, quando foi relator da I do Banestado e prestou assessoria paga pela empresa 2S Participações, de propriedade de Valério, no período em que o empresário era avalista do empréstimo do PT com o Rural e abastecia o caixa dois petista. A I do Banestado funcionou entre 2003 e 2004 para analisar a remessa ilegal de dinheiro ao exterior.
Sampaio considerou que o contrato que serviu de defesa de Mentor foi uma dissimulação e que ele tinha conhecimento que recebia dinheiro de empresas de Valério. Na defesa, Mentor argumenta que o escritório de advocacia recebeu R$ 120 mil por serviços de consultoria prestados a Tolentino, sócio de Valério. "O escritório foi contratado, prestou serviço, recebeu por ele e pagou imposto. Qualquer coisa fora disso não está nos autos", afirmou.
O advogado de Mentor, Antônio Cláudio Mariz, protestou contra o uso do depoimento de Tolentino, classificando-o de "prova emprestada". "O mandato não pode ser cassado por hipótese", afirmou. "A relação com Marcos Valério não é demonstrativo de falta de decoro", disse.
Votaram contra o arquivamento do processo e a favor da cassação de Mentor os seguintes deputados: Orlando Fantazzini (Psol-SP), Chico Alencar (Psol-RJ), Nelson Trad (PMDB-MS), Jairo Carneiro (PFL-BA), Moroni Torgan (PFL-CE), Mendes Thame (PSDB-SP) além de Sampaio de Delgado. Votaram a favor do relatório e, portanto, pela absolvição de Mentor, os deputados Josias Quintal (PSB-RJ), Benedito de Lira (PP-AL), Lino Rossi (PP-MT), Ângela Guadagnin (PT-SP) e Ann Pontes (PMDB-PA), além de Moreira.
