A produção imobiliária em Curitiba está ando por um de seus piores períodos, devendo fechar 2004 com a construção de 500 mil metros quadrados – redução de quase 24% em relação ao ano ado, quando a produção foi de 620 mil metros quadrados. É o quarto ano consecutivo de queda. Em 2000, a construção imobiliária havia registrado a conclusão de 1,6 milhão metros quadrados de obras. Os dados foram divulgados ontem pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR).
Desde 2000, quando houve o boom da construção imobiliária em Curitiba, o setor vem registrando redução de obras concluídas. Segundo dados do Instituto de Pesquisa, Estatística e Qualidade (IPEQ), a partir das informações fornecidas pela prefeitura, a produção imobiliária – incluindo residenciais e não-residenciais – caiu de 1,6 milhão metros quadrados em 2000 para 1,2 milhão no ano seguinte. Em 2002, a produção foi de 1,034 milhão e, em 2003, de 620 mil metros quadrados. De janeiro a outubro deste ano, a produção havia sido de 420 mil metros quadrados – área 22% menor que a registrada no mesmo período de 2003.
Para Ramon Andres Doria, que presidiu o Sinduscon-PR durante três anos e ou o cargo ontem para o empresário Júlio Cesar de Souza Araújo, a queda da produção industrial se deve à política adotada pelo governo federal. "Especialmente este último (governo Lula) vem dando muita ênfase à exportação, que tem isenção de impostos. Enquanto isso, os que produzem para o setor interno sofrem com o aumento de impostos", criticou Doria. "A construção civil como um todo é o espelho do País. Se a classe média tem poder de compra, investe em construção, reformas", emendou.
Para Doria, a expectativa do setor não é positiva para os próximos anos. "Para o ano que vem, o governo federal fala em taxa de crescimento de 4,5% e política de juros ainda na casa dos 15% ou 16%. Nesse cenário, muito pouco deve mudar", afirmou, descrente.
Tributos
Outro ponto bastante criticado pelo setor é a pesada carga tributária que incide sobre a construção civil. Segundo estudo produzido pela assessoria econômica do Sinduscon-PR, os impostos respondem por 48,95% do preço de uma casa popular. O maior peso vem das contribuições sociais sobre a mão-de-obra (20,79%). "Não queremos benesses, mas que as questões tributárias sejam iguais para todos os setores", afirmou o presidente eleito, Julio Cesar de Souza Araújo, que tomou posse em solenidade ontem à noite.
Entre as propostas do setor para reduzir o impacto da carga tributária sobre a construção civil está a transformação de encargos trabalhistas em créditos para outros tributos. Também existe interesse de que algumas empresas do setor sejam enquadradas no Simples.
Emprego
Apesar da queda da produção imobiliária em Curitiba, o nível de emprego na construção civil vem crescendo. Para Ramon Doria, do Sinduscon-PR, isso acontece porque os dados da produção se referem apenas a obras já concluídas. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, de janeiro a outubro deste ano, o setor da construção civil registrou saldo positivo de 3.038 postos de trabalho – crescimento de 12,59% em relação ao mesmo período de 2003. No Paraná, o saldo foi de 3.865 empregos e, no País, 99.809. Apesar do aumento de postos de trabalho, o setor ainda não conseguiu recuperar o nível de emprego. No período de 2001 a outubro de 2004, o setor acumula saldo negativo de 4.358 empregos em Curitiba, 8.115 no Paraná e 11.175 no Brasil.
Com relação à informalidade, dados do IBGE apontam que no ano ado havia no Paraná 81 mil trabalhadores formais contra 64 mil informais. Em Curitiba, a proporção era de 28 mil trabalhadores formais para 15 mil informais. "O pior é que são nossos construtores, engenheiros ou arquitetos que praticam a informalidade e, infelizmente, com o consentimento do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia)", lamentou Doria. "É importante ter capacidade e vontade de punir, denunciar os maus construtores, engenheiros e arquitetos para a sobrevivência do setor", arrematou.
