Crise na saúde mental

Metas abusivas levam 14% dos bancários ao esgotamento mental

Sessão da Assembleia Legislativa do Paraná
Foto: Orlando Kissner/Alep

A pressão por metas abusivas de produtividade tem levado bancários paranaenses ao adoecimento mental, conforme revelado em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná nesta terça-feira (20). O evento, organizado pela Frente Parlamentar de Proteção à Saúde Mental, reuniu trabalhadores, sindicatos e profissionais de saúde para discutir estratégias de enfrentamento.

A deputada Ana Júlia (PT), coordenadora da Frente, aproveitou a ocasião para lançar a cartilha “Combate ao Assédio Moral e Sexual no Trabalho”. O guia de 12 páginas explica os tipos de assédio e as medidas que podem ser tomadas para coibi-los.

“Hoje não temos políticas voltadas à proteção e promoção da saúde mental”, alertou a parlamentar. “O que queremos é que as pessoas não em por situações de sofrimento mental, principalmente as ocasionadas por situações de trabalho”.

Dados assustam

Segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), os bancários representam a segunda categoria com mais afastamentos por problemas de saúde mental, correspondendo a 14,8% dos casos. O médico do trabalho Elver Andrade Moronte estima que o número real pode ser três vezes maior, considerando os casos não reconhecidos.

Mauro Salles Machado, da Contraf-CUT, enfatizou a situação. “Os dados da previdência social não mentem. Apontam claramente a relação do adoecimento com o emprego. A categoria dos bancários afasta mais que o conjunto das outras categorias”, disse.

Mudança no perfil de adoecimento

Deonísio Schmidt, presidente da Fetec-PR, explicou que desde o final dos anos 1990, houve uma mudança significativa no quadro de adoecimento dos bancários. Problemas osteomusculares deram lugar a questões psíquicas, coincidindo com transformações na gestão bancária.

“Emergiu um novo modelo individualista, sem coletividade e com uma competitividade na qual o bancário, para se dar bem, precisa que o outro esteja mal”, afirmou Schmidt.

O psicólogo André Guerra também comentou sobre o adoecimento. “Quando o trabalho muda da exploração do corpo para a subjetividade, o adoecimento deixa de ser físico e a ser psíquico”, falou.

Consequências graves

A situação tem levado a um uso alarmante de medicamentos controlados. Elias Hannemann Jordão, da Contraf-CUT, revelou que 39% da categoria faz uso de antidepressivos, ansiolíticos ou estimulantes.

Mais grave ainda, Ricardo Mendonça, da Fetec-PR, informou que 166 bancários cometeram suicídio entre 2006 e 2014 no Brasil, sendo 22 no Paraná.

Campanha de conscientização

O Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba lançou a campanha “dá uma pausa, mude a causa”, visando conscientizar sobre a importância das pausas no trabalho e a necessidade de enfrentar o problema coletivamente.

Cristiane Zacarias, presidente do sindicato ressaltou a importância de se ter metas reais. “Nós precisamos nos apropriar do debate que nós temos que fazer com os bancos e fazer a cobrança pelos fins das metas abusivas”, disse a presidente.

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