Na contramão da expectativa mais forte, de que se encontrem indícios de envenenamento no corpo do ex-presidente João Goulart, um são-borjense ilustre contesta a hipótese: “Ele não foi assassinado. A ditadura o matou, mas penso que foi de tristeza”, crava o advogado e escritor Iberê Teixeira, com dotes de oratória de quem se especializou no tribunal do júri, pelas comarcas da região. A afirmação baseia-se, de saída, em duas observações pessoais.
Poucos meses antes de morrer, Jango, que pretendia retornar ao Brasil depois de 12 anos de exílio, confessou ao amigo sua amargura com a decisão do general Sylvio Frota de prendê-lo caso colocasse os pés em território nacional. “Aquilo doía muito no dr. Goulart”, relembra. A outra observação vem do mesmo encontro, quando Iberê jantava com o ex-presidente em uma de suas fazendas uruguaias: “Lembro que Tito, cozinheiro do doutor, preparou-nos um ensopado de espinhaço de ovelha, com mandioca. Um cardiopata como Jango, que adorava comidas pesadas, além de uísque e cigarro? Ele um dia aria muito mal”.
Iberê tornou-se janguista na mocidade, destacando-se como líder estudantil em São Borja. A militância só os aproximou ao longo dos anos. Quando correu a notícia em São Borja da morte do ex-presidente, o jovem advogado pegou seu carro e foi esperar o corpo no trevo de Itaqui, já em solo brasileiro. Lembra-se da confusão armada em torno do funeral improvisado e, em particular, do rosto do amigo através do visor ovalado do caixão: “Suas narinas sangravam”.
Hoje rejeita as versões de envenenamento propagadas anos atrás por um ex-agente secreto uruguaio, Mario Neira Barreiro, que confessou ter participado da Operação Escorpião, suposto plano de eliminação de João Goulart. “Esse sujeito é um fanfarrão”, declara. Para Iberê, os testemunhos de Neira Barreiro ao escritor Carlos Heitor Cony, ao historiador Moniz Bandeira e ao próprio filho de Jango, João Vicente, são inverossímeis.
Testemunhos feitos com um único objetivo, segundo o advogado, que preside uma comissão para dar apoio à Comissão Nacional da Verdade neste caso: preso no Rio Grande do Sul, o ex-agente uruguaio pretenderia driblar o pedido de extradição do Uruguai, onde é acusado de múltiplos crimes, qualificando-se como preso político no Brasil.
“A ditadura não iria eliminar Jango no exílio, quando havia alvos prioritários entre as lideranças de esquerda, como Francisco Julião, Miguel Arraes, o próprio Brizola.” O doutor Iberê, figura respeitada em São Borja, ainda vai mais longe: “Onde estão as conversas telefônicas de Jango, que Neira teria grampeado? Por que este sujeito não mostra o que diz ter"M627.409,331.563L512.604,306.07c-44.69-9.925-79.6-46.024-89.196-92.239L398.754,95.11l-24.652,118.721
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