Eu sempre soube que a vida é dessas que nos prega peças. E tem coisas que a gente só entende quando acontecem com a gente.

O Bernardo é uma versão miniatura do pai: tem o jeitinho tranquilo, mas com meus olhos e meu queixinho. Ama sopa, como eu. Ele é o pai dele numa versão mais fofinha — e é fácil lidar com isso. Fácil amar alguém que se parece com quem você ama há anos. Fácil entender os defeitos que você já foi aprendendo a conviver.

Mas e quando a cópia é sua… ah, aí é outra história. A Laura, senhoras e senhores, é uma versão pocket de mim. Vocês têm noção do que isso significa?

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Quando ela tinha uns três, quatro meses, eu olhava pra ela e não achava parecida nem comigo, nem com o pai. Mas havia algo familiar. Um dia, vi uma foto minha bebê, com a idade dela. Se colocasse lado a lado, dava pra confundir. Depois disso, comecei a reparar mais. E foi aí que percebi: eu estava repetindo frases da minha mãe.

Frases que ouvi quando era criança, como:

“Desde que você nasceu era terrível, parecia que não tinha medo de nada.”

“Seus irmãos eu tinha que empurrar pro mundo. Você, eu tinha que segurar.”

“Você não pode ver uma bagunça que quer ir lá ver o que tá acontecendo.”

O dia que me ouvi dizendo isso pra Laura, caiu a ficha: a semelhança não era só no rostinho. Era comportamento, era jeito, era energia.

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Agora, com um ano, parece que a gente só fica mais parecida. E o mais louco: não é só ela que está ficando mais parecida comigo. Eu também estou ficando mais parecida com ela.

Eu sempre fui corajosa e destemida. Mas ei anos ouvindo: “deixa pra lá”, “não vale a pena brigar”. E, de repente, virei alguém cheia de medos e inseguranças. Medo de andar na rua, de ser assaltada, de andar com os vidros abaixados, medo de desagradar, de conversas difíceis. Guardei a Beatriz corajosa embaixo da cama e a esqueci lá.

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Mas a maternidade… ah, ela nos cutuca onde mais dói. E ver a Laura ali, uma mini-Beatriz com covinhas, me fez despertar. Comecei a me perguntar:

  • O que estou aceitando da vida?
  • É isso que quero mostrar pra minha filha?
  • É isso que ela merece ver como exemplo?

Tive sorte de, na maioria das vezes, poder responder “sim”. Mas tratei de corrigir os “nãos”.

  • Como posso ensinar meus filhos a não aceitarem o inaceitável, se eu aceito?
  • Como posso querer que sejam corajosos, se não me veem sendo?
  • Como diria um amigo: como vou ensinar meu filho a comer os vegetais se eu não como os meus?

Eles seguem a gente o tempo todo.

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