Provavelmente quem ou na frente do Circo da Cidade, no bairro Boqueirão, em Curitiba, durante algumas noites de maio e abril e viu uma intensa movimentação, não imaginou que ali aconteciam gravações de um filme da Disney, reunindo os atores Reynaldo Gianecchini, Débora Nascimento, Carla Diaz e Bukassa Kabengele. O longa ‘A Arte do Roubo’, do diretor curitibano Marcos Jorge, é uma grande produção do cinema brasileiro e explora diferentes espaços da capital paranaense, fazendo da cidade o cenário perfeito para um roubo cinematográfico.
Chamado de heist movie – filme de assalto, em inglês – a produção envolve vários gêneros, como ação, comédia e drama. O filme acompanha a história de Alice (Débora Nascimento) e Lia (Carla Diaz). As duas personagens são artistas de circo e, em determinado momento da história, conhecem Wagner (Reynaldo Gianecchini), um esperto e envolvente expert do mundo das artes e que possui um plano para roubar colecionadores.
Traídas pelo companheiro, Lia é presa e Alice foge do país. Cinco anos depois, elas se reencontram e iniciam um plano de vingança, com o objetivo de roubar o museu istrado por Wagner. Na sinopse, elas criam “uma estratégia que fará desse roubo uma verdadeira obra de arte”.

Contemplada por espaços culturais que merecem reconhecimento em uma telona, Curitiba ganha protagonismo no filme com diferentes locações. Além de belas cenas gravadas no Circo da Cidade, um espaço cultural do município que valoriza a arte circense, o longa também escolheu endereços como, o Museu Oscar Niemeyer, Casa Barrozo, Casa dos Gerânios, Club Vibe, Restaurante Durski, Fun’iki. Algumas cenas também foram gravadas no Porto de Paranaguá, no litoral.
Assista um pouco da gravação no Circo da Cidade:
“Um filme muito curitibano”
O diretor Marcos Jorge, que carrega no currículo 39 prêmios com o primeiro longa de ficção ‘Estômago’, exalta a escolha da capital do Paraná como cenário para ‘A Arte do Roubo’. “Eu gosto muito de filmar em Curitiba. É meu oitavo longa de ficção. Não fiz todos [na cidade], filmei no Rio [de Janeiro], São Paulo, mas vários desses eu fiz em Curitiba. Eu gosto não só da cidade como um cenário que é muito rico, como da praticidade que é de filmar aqui. Não tem muito trânsito, você consegue ar os lugares com certa tranquilidade. A gente tem um grande patrimônio humano em Curitiba que é muito bom. Esse é um filme muito curitibano, tem quatro atores de fora e toda a equipe é curitibana e o resto do elenco, 50 e tantos atores, são de Curitiba”, conta o diretor.
Nas produções que escreve e dirige, Jorge insere, mesmo nos momentos de entretenimento, pitadas de reflexão, muitas vezes com aspectos sociais. Nessa produção ele adianta que não será diferente. “Esse filme é de entretenimento, é um filme de roubo daqueles que tem um projeto que você acompanha com prazer, as pessoas se unem para realizar um roubo [que no] fundo acaba sendo um roubo do bem, e se vingar de uma pessoa do mal. Então a estrutura é clássica de filme de roubo. Por outro lado, tem uma reflexão sobre os limites da arte, sobre o poder da arte, sobre como a arte se coloca hoje na contemporaneidade”, explica.

Como o longa está envolto nesse universo, o diretor buscou quadros de artistas reais, como Vick Muniz, Adriana Varejão, No Martins, Joseca Yanomami, Luiz Zerbini, para aumentar a autenticidade da narrativa.
“Então existe um lado do filme que é puro entretenimento, você pode não saber nada de arte e vai se divertir pra caramba com essa galera fazendo esse roubo. E tem um lado que é uma reflexão social e reflexão da arte que eu não posso adiantar porque senão eu estou dando spoiler. Mas o final tem uma forte reflexão social sobre o papel da arte”, completa Jorge.
Conexão dos personagens em ‘A Arte do Roubo’
Como pede o gênero, a produção conta com cenas de ação e com a ajuda de dublês para dar conta do recado. Quem se dedicou para aprender a arte circense foi Carla Diaz, atriz que interpreta Lia. “Nós atores emprestamos o nosso corpo como instrumento para arte e agora nessa personagem eu estou emprestando de corpo e alma, literalmente. São muitos desafios, não só a luta. A gente tá gravando hoje no circo, a minha personagem é também uma artista circense, apaixonada pela arte e ela faz o tecido. Então foi um outro desafio para mim como atriz aprender em cinco aulas. Cinco, seis aulas, não tivemos mais tempo. Estamos gravando muitas noturnas, então acabou que não deu mais tempo para ensaiar como eu gostaria”, comenta.
Carla também reconhece o trabalho dos dublês no filme. “Temos dublê para o tecido, parkour, escalada. Acho que só de luta não tivemos. É muito bacana porque são profissionais incríveis e que trazem todo o perfeccionismo que um filme de ação exige”.
Lia, interpretada por Carla, é muito próxima de Alice (Débora Nascimento). “Elas não largam a mão uma da outra e a sede por justiça, que é o que move também a trama do filme. E é fascinante. É um filme que fala sobre amizade, diversas formas de amar a arte. Acho que posso resumir nessa frase e é obvio que é um filme com muita ação, para família toda. Vocês vão amar. Ainda mais gravando aqui em Curitiba pela primeira vez, estou conhecendo essa cidade, as locações estão maravilhosas”, diz Carla.
Para Débora Nascimento, as duas personagens se completam, assim como o resto da ‘gangue’. “Acho que a parte estrategista da Alice lida muito bem, é muito bem elaborada exatamente em juntar pessoas que se complementam. Tem muita emoção no filme. É um filme de ação, mas é também um filme de drama, de relações, de carinho, de vingança também. É um filme de assalto que a gente não vê muito no Brasil, a gente vê muito lá fora, com superefeitos. Mas esse filme é super elaborado, roteiro super amarradinho”.

“O Cesar [Muga] faz parte da turma da Alice. O circo é um QG muito importante para a narrativa e ele faz parte dessa turma que vai ajudar a Alice e a Lia a entrarem nesse roubo misterioso e resolver esse enigma que não tem muito como dar spoiler porque é muita aventura, é muito delicado, mas é muita química. Eles têm uma relação muito boa, de respeito”, conta Bukassa Kabengele.
Descrevendo o personagem Wagner como alguém de “caráter duvidoso”, Reynaldo Gianecchini comenta que é a segunda produção de filme de gênero que participa em Curitiba. “Esse filme tem umas locações incríveis e tem arte de verdade, arte boa. Eu estou bem impressionado com o que eles conseguiram juntar assim, tanto as locações, quanto esses artistas com suas artes, tá muito legal”.
Produção cara
Sobre esse tipo de produção ser pouco vista no país, o diretor explica que é um filme caro, pois exige muitos ambientes, atores e efeitos. De acordo com Marcos Jorge, a escrita de “A Arte do Roubo” começou em 2022, depois que ele fez um projeto anterior com a Disney.
“A Disney falou ‘a gente podia fazer um projeto que tivesse ação’ e eu falei ‘e se a gente fizesse o roubo de um museu?’. A partir dessa premissa eu desenvolvi a história e comecei a apresentar o projeto, lá por 2022. Um filme de roubo é muito articulado, as coisas tem que conversar muito bem. Então a gente levou anos desenvolvendo o roteiro até conseguir chegar no estágio que estamos hoje que estamos filmando o filme”, revela.
Sobre a escolha do título, Jorge afirma que são vários significados. “Na verdade, o roubo que é feito no filme é uma obra de arte, é uma manifestação artística. Não é um roubo comum, é um roubo com objetivo ao mesmo tempo que o faz com que ele seja uma obra de arte”.
O filme é uma produção da INTRO Pictures e Zencrane Filmes, com coprodução da Star Original Productions distribuição da Star Distribution. A data de estreia do longa ainda não foi definida oficialmente.
