Curitiba, a cidade que escolheram para chamar de lar, abriga dois dos últimos veteranos brasileiros da Segunda Guerra Mundial. João Trela e Joaquim Ignacio Goulart Mayer, com 100 e 99 anos respectivamente, são testemunhas vivas de um capítulo crucial da história mundial que completa oito décadas este ano.
Quando partiram para a Itália em 1944, Curitiba era uma cidade muito diferente da metrópole que conhecemos hoje. Com cerca de 160 mil habitantes e metade dos bairros atuais, a capital paranaense era o destino escolhido por esses jovens soldados para reconstruir suas vidas após o conflito.
Joaquim Mayer: O Gaúcho de Coração Curitibano
Aos 99 anos, Joaquim Mayer relembra com precisão sua jornada como pracinha. “No dia 8 de fevereiro, fez 80 anos que saímos do Brasil para nos juntarmos aos aliados”, conta o ex-soldado, hoje morador do bairro Órleans.
Voluntário na Força Expedicionária Brasileira (FEB), Mayer atuou na tropa de serviço, responsável pela escolta de prisioneiros. “Era a Polícia da FEB e só pegava na arma para defesa”, explica. Apesar disso, participou de um momento histórico: a rendição da 148ª Divisão de Infantaria Alemã.
O veterano carrega consigo memórias indeléveis da guerra. Uma tatuagem desbotada no braço direito, representando uma mesquita, simboliza a vitória nos Montes Apeninos. Cicatrizes de um disparo acidental e a lembrança de um breve romance com uma jovem italiana completam suas recordações do conflito.
Após a guerra, Mayer escolheu Curitiba para recomeçar. “Estamos aqui há 51 anos”, diz ele, que se aposentou como carteiro e hoje vive com o filho Carlos. Sobre a capital paranaense, é enfático: “Gosto muito de viver aqui”.
João Trela: Um Século de História Curitibana
Prestes a completar 101 anos, João Trela é outro herói que Curitiba abraçou. Morando na Rua Monte Castelo, nome que homenageia uma das batalhas cruciais da FEB, o ex-sargento guarda com carinho álbuns de fotos e cartas da época do conflito.
Trela, que já vivia em Curitiba desde os 10 anos, foi convocado em setembro de 1944. “Fomos até o Rio de Janeiro e, de lá, embarcamos no navio sem saber exatamente onde íamos aportar”, recorda. Sua formação técnica o levou a atuar na retaguarda, dando e ao Comando.
Ao retornar, optou pela vida civil, tornando-se contador – profissão que o levou a conhecer sua esposa, Avany, com quem viveu por 71 anos. “Eu dava assistência contábil e acabei atendendo a bombonière da mãe dela, na Rua XV. Assim começou o nosso namoro”, conta o veterano, que se aposentou como auditor da Receita Federal.
